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Sexta-feira, 11 de Janeiro de 2008
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Civilizações aliadas (Fim)


Nuno Rogeiro, Comentador político

Quando George Bush diz a Israel que deixe de ocupar terra da Palestina, de que "civilização" é?

Quando os partidos maioritários do Paquistão explicam que o Islão é uma matéria de escolha pessoal, e não um elemento de ataque e divisão, de que "civilização" são?

Quando, em pleno centro de Istambul, vemos mulheres de "burkha" passar em frente de "sex shops", e uma igreja católica italiana repleta de fiéis, e um partido islâmico que se diz próximo da CDU alemã, quantas "civilizações" observamos?

O conceito de "civilização" só é útil se quiser dizer "modo de vida". Nesse sentido falava Hans Köchler, em 1999, e o ex-líder iraniano Mohammad Khatami, em 2001, pregando o "diálogo das civilizações".

Nesse sentido, constroem os músicos sérvio-americanos, Milan Kovacev e Nikola Radan, o projecto de fusão musical do mundo bizantino e do Extremo Oriente, da Europa medieval e dos príncipes poetas da Arábia (em Hagia Sophia).

Pode passar-se do "diálogo" para a "aliança"? Sim, no sentido em que os inimigos comuns das "civilizações" são prementes e conhecidos trata-se de todos os que querem transformar as diferenças culturais em conflitos, os conflitos em guerras e as guerras em guerras de extermínio.

A "aliança" precisa de se basear em conceitos de auto-determinação e tolerância, respeito mútuo e acolhimento da dignitas do outro. Nesse sentido, as "civilizações" ameaçadas pela barbárie fazem parte da mesma família, respondem aos mesmos ataques, e deveriam planear as mesmas defesas.

Nesse sentido, as "civilizações" possuem valores comuns, e não é por acaso que, em geral, aceitaram a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, carta de verdades auto-evidentes, que são sobretudo direitos dos homens (para usar a expressão de Guillaume Faye).

De certa forma, esta aceitação cria uma herança comum, não se podendo mais falar de um mundo "sem raízes", como referia o cardeal Ratzinger, em 2006.

Chamemos a esta "aliança", como quer o candidato à Casa Branca, John McCain, "Liga da Liberdade", ou, como dizia o professor Rudolph J. Rummel, "Aliança de democracias", ou, como poderíamos chamar, "Clube dos Povos Decentes".

Os seus membros terão, certamente, regimes diferentes, sistemas de governo diversos, estados constituídos de forma desigual, mas nenhum quererá ser liderado por um pregador do extermínio.

A regra, em suma, é "crescer e deixar crescer".

Porque também as "civilizações", como as pessoas, possuem o direito à vida.

Nuno Rogeiro escreve no JN, semanalmente, às sextas-feiras