Civilizações
aliadas
(Fim)
Nuno Rogeiro, Comentador
político
Quando George Bush diz a Israel que
deixe de ocupar terra da Palestina, de que "civilização"
é?
Quando os partidos maioritários do Paquistão
explicam que o Islão é uma matéria de escolha pessoal, e
não um elemento de ataque e divisão, de que
"civilização" são?
Quando, em pleno centro de
Istambul, vemos mulheres de "burkha" passar em frente de
"sex shops", e uma igreja católica italiana repleta de
fiéis, e um partido islâmico que se diz próximo da CDU
alemã, quantas "civilizações" observamos?
O
conceito de "civilização" só é útil se quiser dizer
"modo de vida". Nesse sentido falava Hans Köchler, em
1999, e o ex-líder iraniano Mohammad Khatami, em 2001,
pregando o "diálogo das civilizações".
Nesse
sentido, constroem os músicos sérvio-americanos, Milan
Kovacev e Nikola Radan, o projecto de fusão musical do
mundo bizantino e do Extremo Oriente, da Europa medieval
e dos príncipes poetas da Arábia (em Hagia Sophia).
Pode passar-se do "diálogo" para a "aliança"?
Sim, no sentido em que os inimigos comuns das
"civilizações" são prementes e conhecidos trata-se de
todos os que querem transformar as diferenças culturais
em conflitos, os conflitos em guerras e as guerras em
guerras de extermínio.
A "aliança" precisa de se
basear em conceitos de auto-determinação e tolerância,
respeito mútuo e acolhimento da dignitas do outro. Nesse
sentido, as "civilizações" ameaçadas pela barbárie fazem
parte da mesma família, respondem aos mesmos ataques, e
deveriam planear as mesmas defesas.
Nesse
sentido, as "civilizações" possuem valores comuns, e não
é por acaso que, em geral, aceitaram a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, de 1948, carta de
verdades auto-evidentes, que são sobretudo direitos dos
homens (para usar a expressão de Guillaume
Faye).
De certa forma, esta aceitação cria uma
herança comum, não se podendo mais falar de um mundo
"sem raízes", como referia o cardeal Ratzinger, em
2006.
Chamemos a esta "aliança", como quer o
candidato à Casa Branca, John McCain, "Liga da
Liberdade", ou, como dizia o professor Rudolph J.
Rummel, "Aliança de democracias", ou, como poderíamos
chamar, "Clube dos Povos Decentes".
Os seus
membros terão, certamente, regimes diferentes, sistemas
de governo diversos, estados constituídos de forma
desigual, mas nenhum quererá ser liderado por um
pregador do extermínio.
A regra, em suma, é
"crescer e deixar crescer".
Porque também as
"civilizações", como as pessoas, possuem o direito à
vida.
Nuno Rogeiro escreve no JN, semanalmente,
às sextas-feiras
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